Educação social, participação e os desafios do século XXI

Educação social, participação e os desafios do século XXI

Na senda do 75º aniversário das Nações Unidas, a organização desencadeou um processo global de auscultação de cidadãos e de organizações da sociedade civil para debater os desafios que a humanidade enfrenta.

Os resultados daquela sondagem foram publicados este ano no relatório “A Nossa Agenda Comum”, traçando-se um diagnóstico preocupante do estado do mundo: antevê-se o aumento da frequência de situações pandémicas, a aceleração da degradação ambiental com a extinção de espécies e a perda irreversível de biodiversidade e a recorrência de fenómenos extremos de seca, inundações e outros.

O aprofundamento da desigualdade no acesso aos recursos fundamentais para uma vida digna, o desrespeito pelos direitos humanos, as tensões sociais, os extremismos e os conflitos geopolíticos apontam para uma quebra das dinâmicas cooperativas, no interior dos países e nas relações internacionais, fundamentais para interromper aquele conjunto de tendências.

Traçado o cenário, a ONU incita os seus membros à transformação das relações entre os Estados e os seus cidadãos, uma renovação do contrato social, incluindo o reforço dos sistemas de proteção social, dos serviços de saúde, da educação e da educação ao longo da vida, o acesso ao emprego digno, a igualdade de género, a habitação e a inclusão digital. Salienta ainda a necessidade de garantir a solidariedade intergeracional e melhorar a confiança interpessoal e nas instituições, garantindo aos cidadãos o acesso a possibilidades de participação ativa na definição das políticas públicas que respeitam às suas vidas.

Relativamente ao contexto português e europeu, o Eurobarómetro sobre o Futuro da Europa, publicado em 2021, indica que os portugueses entendem como desafios prioritários da UE, a desigualdade social, o desemprego, a dívida pública, o fraco crescimento económico, a resposta a problemas da saúde global, a mudança climática e os problemas ambientais. Tal como a grande maioria dos cidadãos europeus, os cidadãos nacionais consideram que a sua voz deve ser mais ouvida nas decisões europeias, nacionais e principalmente ao nível local.

A resposta a problemas complexos, em sociedades diversas e em mudança acelerada, requer um novo olhar para o modo como entendemos as sociabilidades e os processos de construção conjunta de aspirações de futuro, e de caminhos para as alcançar. Estes processos, que têm na sua base, a procura de formas de organização coletiva e de construção comunitária, evidenciam a importância da intervenção socioeducativa orientada para a promoção da participação, da cooperação e para a dinamização de espaços de participação abertos, transparentes e democráticos, em todos as esferas sociais.

A Pedagogia Social, enquanto ciência que sustenta a intervenção da Educação Social, surgiu na Alemanha para responder à emergência de um conjunto de problemas sociais num período de grandes transformações societais decorrentes da Revolução Industrial. Em tempos de revolução digital, ela desempenha hoje um papel fundamental na resposta aos desafios que vivemos. Constituindo um espaço de ação profissional assente num entendimento amplo e holístico da educação, que reconhece e promove as capacidades de pessoas, grupos e comunidades, a intervenção dos educadores sociais é fundamental na construção de espaços e processos inclusivos de aprendizagem, individual e coletiva, centrados na e para a participação ativa dos cidadãos e na promoção do bem-estar, em todas as suas dimensões.


Tânia Helena Santos

Diretora adjunta da Escola Superior de Educação Jean Piaget de Almada

Coordenadora da licenciatura em Educação Social