Reflexões da pandemia Covid-19: o papel das TIC no apoio a crianças e jovens com Perturbação do Espetro do Autismo

Reflexões da pandemia Covid-19: o papel das TIC no apoio a crianças e jovens com Perturbação do Espetro do Autismo

A recente crise de saúde pública associada à Covid-19 introduziu desafios significativos para crianças e adolescentes com Perturbação do Espetro do Autismo (PEA). A PEA é uma condição neurodesenvolvimental, caracterizada por dificuldades na comunicação social e pela presença de interesses e atividades restritos, e de padrões de comportamento repetitivos e inflexíveis (APA, 2013).

De acordo com o estudo de revisão sistemática proposto por Almeida et al. (2023), o contexto pandémico evidenciou impactos substanciais no desenvolvimento psicossocial desta população específica, afetando diversas áreas, tais como o comportamento, a saúde mental e a rotina diária. Essa situação ocorreu principalmente devido à interrupção de serviços presenciais e às dificuldades na gestão da vida quotidiana, encontradas nos contextos familiar e escolar.

O confinamento e o isolamento social, causaram o agravamento associado às dificuldades de comunicação e aos comportamentos repetitivos. Registaram-se alterações de comportamento, humor e na dinâmica familiar, bem como o impacto nas relações sociais, de acordo com pais e outros agentes educativos (Givigi et al., 2021). Os processos de aprendizagem também sofreram comprometimentos ao nível da realização das tarefas propostas e das interações sociais (Ameis et al., 2020).

Em resposta a estes desafios, as TIC (tecnologias de informação e comunicação) desempenharam um papel relevante no apoio às crianças/adolescentes com autismo ao longo da Covid-19. Segundo Chinchay et al. (2023), as TIC podem potenciar estratégias de apoio a este público, durante períodos semelhantes de interrupção, de epidemias/pandemias que se possam verificar no futuro.

Alguns autores discutem a criação de soluções tecnológicas para orientação familiar, demonstrando como o suporte digital pode ser benéfico para prestar apoio a crianças/adolescentes com PEA e suas famílias (Lustosa et al., 2023). Este apoio pode ser concretizável ao nível da comunicação à distância, aprendizagem, gestão emocional, estimulação de funções executivas, atividades da vida diária, atividade física e motricidade (Chinchay et al., 2023).

As TIC revelam-se assim, como ferramentas promissoras e com potencial para o desenvolvimento e inclusão de crianças e jovens com PEA, oferecendo recursos inovadores que auxiliam no seu desenvolvimento e rotina (Chinchay et al., 2023). Com a evolução dos recursos digitais, sugere-se que estes podem ser aliados para melhorar a qualidade de vida de crianças e jovens diagnosticados com PEA e garantir estratégias cada vez mais eficazes e adaptadas às suas necessidades e às das suas famílias, procurando mitigar impactos negativos na saúde e bem-estar.

No entanto, o desenvolvimento destas soluções ainda carece de reflexão em termos de criação de condições de acesso digital destas soluções às famílias, formação e capacitação nas ferramentas TIC, apoio profissional individual para potencializar ambientes educativos estruturados, bem como formas de promover a disponibilidade dos cuidadores em casa, para apoiar as crianças/jovens com PEA, sem prejudicar e/ou restringir a sua atividade profissional.

Referências

Almeida, A. R., Oliveira, R. M. F. de, Mantovani, H. B., & Rocha, A. N. D. C. (2023). Impactos da Pandemia no Desenvolvimento da Criança com TEA: uma Revisão Sistemática. Revista Brasileira de Educação Especial, 29(e0131), 243-260 https://doi.org/10.1590/1980-54702023v29e0131

Ameis, S. H., Lai, M. C., & Mulsant, B. H. (2020). Coping, fostering resilience, and driving care innovation for autistic people and their families during the COVID-19 pandemic and beyond. Molecular Autism, 11(61), 1-9. https://doi.org/10.1186/s13229-020-00365-y

APA (2013). Diagnostic and statistical manual of mental disorders (5th ed.). American Psychiatric Publishing.

Chinchay, Y., Torrado, J. C., Gomez, J., & Montoro, G. (2023). Towards more supportive ict for children with autism spectrum disorders: Lessons learned from covid-19 pandemic. Behaviour & Information Technology, 1-20. https://doi.org/10.1080/0144929X.2023.2268734

Givigi, R. C. do N., Silva, R. S., Menezes, E. da C., Santana, J. R. S., & Teixeira, C. M.P. (2021). Efeitos do isolamento na pandemia por COVID-19 no comportamento de crianças e adolescentes com autismo. Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, 24(3), 618–640. https://doi.org/10.1590/1415- 4714.2021v24n3p618.8 Lustosa, I. S., Gama, L. M. C., Carvalho, S. de A., & Okano, M. T. (2023). Apoio digital ao autismo: prototipagem de um aplicativo para orientação familiar. South American Development Society Journal, 9(27), 87-108. https://doi.org/10.24325/issn.2446-5763.v9i27p87-108


Renata Monteiro

Estudante do 2º ano da licenciatura em Psicologia do ISEIT/Viseu e membro do SI-PSI – Programa de Iniciação Científica para Estudantes de Psicologia do ISEIT/Viseu

Isabel S. Silva

Coordenadora e professora auxiliar da licenciatura em Psicologia do ISEIT/Viseu; coordenação do Programa SI-PSI do ISEIT/Viseu

Ana Bártolo

Professora auxiliar da Universidade Portucalense; co-coordenação do Programa SI-PSI do ISEIT/Viseu