Saúde mental comunitária e inclusiva

Saúde mental comunitária e inclusiva

A saúde mental é uma parte essencial do bem-estar do ser humano e garantir o acesso a cuidados de saúde mental de qualidade é um direito e uma prioridade global. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2022), a saúde mental deteriorou-se a nível mundial desde a pandemia Covid-19, afetando a sociedade de forma transversal.

Os dados disponíveis sugerem que um em cada seis cidadãos na União Europeia teve um problema de saúde mental. A prevalência de perturbações mentais em Portugal encontra-se entre as mais elevadas da UE, sendo as problemáticas mais frequentes relacionadas com índices elevados de ansiedade e depressão (OCDE, 2022).  

Nos últimos anos, houve um movimento crescente em direção a uma abordagem comunitária e inclusiva em saúde mental, reconhecendo a importância de integrar os serviços de saúde mental na comunidade e promover a participação ativa das pessoas afetadas. Os cuidados de saúde mental comunitários promovem a desinstitucionalização e permitem que as pessoas que sofrem deste tipo de problemas mantenham relações familiares e sociais enquanto recebem o tratamento, potencializando o seu processo de reabilitação. 

No entanto, a implementação de abordagens baseadas na comunidade não se encontra isentas de desafios. É necessário ultrapassar a barreira do estigma e do preconceito associado aos problemas de saúde mental, que muitas vezes impedem as pessoas de procurar o apoio de serviços de saúde especializados.

Outro aspeto, relaciona-se com a escassez de recursos, bem como de financiamentos limitados para a implementação de programas de promoção da saúde mental. Fatores estruturais, como as desigualdades sociais, a situação de pobreza, os problemas da habitação, da mobilidade e de desemprego, podem impactar negativamente a saúde mental das comunidades, e colocar barreiras ao acesso a tratamentos integrados e multidisciplinares.

Por outro lado, a integração eficaz dos serviços de saúde mental na comunidade requer uma cooperação articulada entre os diversos agentes dos sectores social e da saúde. Note-se que a falta de comunicação e de colaboração, bem como resistências institucionais podem comprometer os cuidados prestados por estes serviços.  

Para além dos desafios elencados, surge na área da saúde mental comunitária a oportunidade de oferecer serviços mais centrados nas pessoas, reconhecendo a importância do ajustamento psicossocial e a promoção de fatores protetores associados às variáveis individuais e contextuais, bem como à sua participação ativa no processo de recuperação. A integração de serviços de saúde mental na comunidade pode apoiar na redução do estigma e exclusão social associados à doença mental, promovendo uma cultura de compreensão mais inclusiva e informada. A isto acresce um acesso mais equitativo aos cuidados, especialmente para populações em situação de marginalização e de vulnerabilidade social.

Implementar uma resposta de base comunitária permite ainda colocar ênfase na prevenção e intervenção precoce, nomeadamente através de programas de promoção de competências que visam tornar as comunidades mais resilientes aos desafios atuais. Este caminho permite ainda informar e educar para a identificação prévia de sinais de sofrimento psicológico antes de se tornarem mais graves. Estas ações podem ser articuladas com outros serviços de saúde pública, como os cuidados de saúde primários, entre outros, de forma a potencializar uma abordagem mais holística e coordenada da saúde. 


Isabel Silva

Coordenadora da licenciatura em Psicologia no ISEIT de Viseu