O fisioterapeuta enquanto resolutor de problemas

O fisioterapeuta enquanto resolutor de problemas

O fisioterapeuta assume-se como um resolutor de problemas, em que para tal utiliza as suas capacidades cognitivas e metacognitivas, seguindo um processo dinâmico que envolve vários passos. Este processo deve envolver ativamente o utente e ter em conta a multidimensionalidade do indivíduo, baseando-se na Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) e na Prática Baseada na Evidência (PBE). O Rehab-Cycle, por sua vez, apresenta-se como uma esquematização que visa essa mesma resolução de problemas, nas diferentes fases do processo de reabilitação – uma abordagem estruturada para a gestão da reabilitação, que inclui todas as tarefas de avaliação e análise de problemas, envolvendo o indivíduo no processo de tomada de decisão clínica.

A reabilitação – frise-se – é um processo contínuo que envolve a identificação dos problemas e as necessidades da pessoa/utente, relacionando-os com fatores relevantes da pessoa e do ambiente envolvente, definindo objetivos, planeando e executando diferentes intervenções, e avaliando constantemente o resultado através de instrumentos de avaliação relevantes. A globalidade funcional e biopsicossocial deverão ser a prioridade do fisioterapeuta. A abordagem biopsicossocial será sempre a melhor forma de entender o indivíduo nas suas múltiplas dimensões. Segundo este modelo, mente e corpo não podem ser interpretados de modo isolado; o indivíduo deve ser observado do ponto de vista físico, psicossocial, comportamental e funcional.

O exame da pessoa/utente começa pelo processo de  obtenção de uma história, realização de uma revisão de sistemas, seleção e administração de testes e medidas específicas para obter informação sobre a pessoa/utente, permitindo chegar a uma classificação diagnóstica em fisioterapia.

O estabelecimento de uma boa relação terapêutica logo no momento da entrevista é crucial para que o utente se sinta confortável e acredite na sua evolução. O fisioterapeuta deve ter em conta o modo como comunica, isto é, tem de ter em conta não só aquilo que diz, como também a maneira como fala e atua, a postura e a imagem. A comunicação verbal e não-verbal contribui para esta boa relação terapêutica. Logo, qualquer tipo de comunicação irá influenciar a perceção que a pessoa/utente tem da sua doença, bem como do prognóstico, com influência na adesão à intervenção e as recomendações terapêuticas.

O fisioterapeuta deve estar assim ciente da importância do processo de intervenção em fisioterapia que se inicia no exame subjetivo e objetivo ao utente, definição de objetivos, elaboração do diagnóstico (identificação de problemas) e prognóstico, seleção e aplicação do plano de tratamento e termina, relativamente, na avaliação de resultados.

A identificação dos problemas e a hierarquização dos mesmos segundo a prioridade de intervenção, revela-se de grande importância de forma a orientar a escolha dos procedimentos terapêuticos adequados. Da análise da informação recolhida, devem identificar-se as limitações funcionais, referidas pela pessoa na fase inicial da recolha de informação, os problemas primários (sempre que possível devem estabelecer uma relação de causalidade ou hipótese explicativa) e depois os problemas potenciais, isto é, problemas com potencial de se desenvolver.

Os objetivos gerais devem ser verbalizados pela pessoa/utente e/ou cuidador principal. Os objetivos devem ser SMARTER – isto é, específicos, mensuráveis, atingíveis, realistas, definidos no tempo, continuamente em avaliação da sua concretização e reajustáveis; orientando e definindo, dessa forma o plano de intervenção, que também deve ser redefinido.

A dor como “experiência sensorial e emocional desagradável, associada a lesão ou potencial lesão dos tecidos, ou descrita nos termos dessa lesão” (International Association of the of Pain) deve ser o primeiro dos objetivos do fisioterapeuta, não só pela sua relação íntima com o sofrimento, mas porque vai condicionar a atividades funcional, social e emocional do sujeito. Devem ser ainda definidos os objetivos esperados após a aplicação do plano de intervenção e, escolhidos quais os testes/instrumentos que podem ser utilizados para verificar se estes objetivos foram atingidos.

Em fisioterapia, tem-se verificado um aumento da atenção, no que respeita à educação do utente, embora este aspeto tenha sido sempre contemplado no plano de tratamento. Este aumento de atenção deve-se ao facto de cada vez mais se provar que este aspeto é essencial para a adesão do utente ao tratamento, mas também contribui para o aumento da efetividade do tratamento. Segundo a Joint Commission on Accreditation of Healthcare Organizations (JCAHO) a educação promove comportamentos saudáveis, suporta a recuperação e o rápido retorno à função e envolve os pacientes na tomada de decisões dos seus próprios cuidados.

O papel do fisioterapeuta como educador está centrado na sua prática clínica diária. Hoje em dia, pensa-se que a eficácia da fisioterapia pode estar relacionada com a habilidade do fisioterapeuta em estabelecer uma boa relação terapêutica e com a sua capacidade e competências de ensino.

A execução do plano de tratamento deve ter como referência os problemas identificados e os objetivos definidos, tendo em conta uma visão do utente numa perspetiva bio-psico-social. Na elaboração do plano de tratamento, a escolha das diversas técnicas deve ser baseada na evidência da prática clínica.


Inês Palma Ribeiro

Docente da Licenciatura de Fisioterapia, no Instituto Piaget de Silves